Algumas pessoas preferem começar pelo começo. Eu gosto de começar por onde tudo começou. Poderia dizer que nos tornamos colegas de classe em 1997, mas prefiro relatar-lhes quando aprendi a chamá-lo de
amigo.
São oito anos de história e oito intensos meses de convivência. Desde o dia em que precisei chantageá-lo (ameaçando cantar, se ele não tocasse), sucederam-se madrugadas inteiras no MSN, e conversas sem fim.
Dos exercícios da minha faculdade à cultura inútil dos vídeos que circulam na internet, Vitor foi meu companheiro. Uma época de me sentir dependente e dizer "só vou se ele for". E nós íamos! Éramos uma dupla: eu fazia as
letras e ele
música - mas nunca compusemos.
Nós nos acreditávamos e ele se tornou meu professor de teclado, da maneira mais inusitada: curso por telefone e internet! Nota por nota, acorde por acorde, pacientemente, ele me ensinou as primeiras lições. A amizade foi crescendo, tornando-se cada vez mais sólida.
Cerveja,
crepe,
sushi,
zoológico, as longas esperas nas paradas de ônibus e uma trilha sonora à base de Chopin. Uma amizade nem de tantas farras, mas de muita dedicação. E nos tornamos confidentes. Do enorme carinho existente, surgiu o inevitável. Estávamos cada vez mais próximos e o que é nosso, conosco ficará guardado. Algumas dores, mas precisávamos entender que nossa felicidade não podia ser como tínhamos planejado...
Infelizmente, pouco depois, nem mais tantas madrugadas; conversas finitas, nada de sushi, nem crepe, nem zoológico, nem Chopin. Os programas do fim-de-semana já não eram os mesmos, mas sentíamos no outro a confiança do "conta comigo, pro que der e vier".
E tudo veio de repente, inesperado, inoportuno, inconseqüente.
Cá dentro, a saudade ignora o mundo e faz das lembranças registros indeléveis, sem tempo, presas somente a si mesmas. E, nestas recordações, eu me apego e me conforto, pois tenho a certeza de que tudo que juntos vivemos valeu.